Desde a fundação da Liga de Colombo, no início dos anos 80, os clubes mais próximos da Sede implantaram uma verdadeira hegemonia. Colombo, Juventus e Roça Grande, por exemplo, se estabeleciam como as grandes equipes do município. Até que no fim daquela década uma nova equipe se formou com a ambição de se tornar uma força. A partir de uma dissidência do Bola de Ouro, foi formada a equipe do Santa Cruz, também no bairro Rio Verde. Foi assim que uma equipe disposta a se meter nas primeiras posições conquistou o principal campeonato de Colombo por três vezes nos anos 90. “O Sílvio e o Vilmar me chamaram para tocar a equipe. O Santa Cruz havia sido fundado dois anos antes, pelo Gaúcho. Como eu tinha saído do Bola de Ouro, eu aceitei. Comandei a equipe em 1990 e no ano seguinte já fomos campeões”, lembra o ex-treinador do Santa Cruz, Gerson Augusto Baudy, popularmente conhecido como Binho do Aviário.
Binho esteve à frente da equipe nos três títulos da equipe na Série Ouro da Liga de Colombo, nos anos de 1991, 1994 e 1997, sempre em finais diante do Juventus. “Era uma coincidência, porque só tinha títulos os principais time lá do Centro de Colombo. Foi o Santa Cruz que quebrou esse paradigma e acabou trazendo o título para esse lado de cá de Colombo. Mas já perdi títulos pro Juventus também”, relembra, destacando que o Santa Cruz também ia bem em outras categorias, tendo conquistado diversos títulos nas categorias de Aspirantes e Veteranos. O clube também tentou marcar seu nome no futebol amador do estado, tendo participado da Taça Paraná. Já no final dos anos 2000, porém, o clube acabou ficando inativo motivado por questões financeiras. Mas Binho ainda gostaria de ver a equipe de volta nos gramados colombenses. “Eu acredito que com boas pessoas ,com um movimento certo dá para voltar. Mas só temos intenção de voltar se tudo estiver bem arrumadinho. O Santa Cruz toda a vida foi muito respeitado”, ressaltou.
Para Binho, o momento de maior emoção como treinador foi na conquista do tricampeonato, quando garantiu um título que parecia querer escapar da mãos. “Nós fomos jogar com eles lá na casa do Juventus pelo empate. Casa cheia, cobertura da rádio. E no primeiro tempo tomamos 3 a 0. No segundo tempo nós empatamos, depois eles fizeram o quarto e aos 46 empatamos novamente e fomos campeões no campo deles”, exaltou o treinador. “Nosso time estava invicto, ainda não tinha perdido naquele campeonato. E nós queríamos saber a razão daquilo e nós descobrimos. E daí todo mundo começou a jogar em dobro para mudar aquela situação. O pessoal do Juventus lembra até hoje e brincam conosco”, se diverte, dando detalhes saborosos do que seria a razão para aquele desempenho dos primeiros 45 minutos, mas que são melhores deixar no imaginário do leitor. Outra passagem marcante, de acordo com relato de Binho, foi uma das participações na Taça Paraná. A equipe do Santa Cruz contava na época com o lateral-direito André Ranzani, campeão brasileiro com o Coritiba em 1985. “Teve um jogo em que fomos jogar. O ônibus nosso não chegava. Atrasou, não me lembro bem o que aconteceu e nosso time tinha que entrar em campo. Aquele dia até meu massagista foi para campo, porque não tínhamos onze jogadores. Nós jogávamos pelo empate para passar de fase. E na ida eu falei que íamos nos classificar na casa deles, que o time deles não era bom. Quando chegamos lá a torcida deles cantava “Binho, v****”. Ainda tive um jogador expulso depois. Quando eles fizeram um gol vieram vários jogadores se jogando próximo a mim, tirando sarro. Aí fomos lá e empatamos. Daqui a pouco um atleta se machucou. Mais pra frente o Andrezinho se machuca também e sai andando de campo. Eu não tinha como colocar mais ninguém. O repórter vai no André e pergunta se a gente tinha combinado para fazer o ‘cai cai’. O André negou, mas ele foi pensando ‘será que o Binho vai fazer isso?’, afinal, era o nome dele que estava em jogo. Mas nós conseguimos empatar e nos classificamos. A torcida dos caras invadiu o campo para me bater. O André me deu um abraço completamente feliz com o resultado”, gargalha Binho.
Atualmente, Binho trabalha apenas como comerciante em seu aviário. Entre a clientela, estão até mesmo ex-atletas como Tostão (xará do ídolo do Coritiba), desportista local, que por um acaso, no momento em que entrevistávamos Binho, estava levando para casa seu animal de estimação, que passou por cuidados na clínica veterinária estabelecida no local. O jogador foi campeão pelo Santa Cruz em 1991 e 1997. As lembranças das conquistas e daquele período fazem parte do cotidiano do hoje empresário. “O que ficam são as recordações. Os amigos que formamos. Minha mulher ia no campo. Criei minhas filhas indo no campo. Foi um período muito gostoso, em que se formou uma família”, finaliza Binho.